Acho que já dá pra dizer mais algumas coisas. Já dá pra me chamar de "amor". Combinado. Provisoriamente, vamos apelidar isso de "amor", até que ele cresça, aprenda a falar e, quem sabe, cale nossas bocas. Até porque é vão ter medo de espantar o que já é tão iminente. Não adianta gritar amarrada nos trilhos, com o trem há dois metros, apitando que a mesma fome que tem de te comer na mesa da cozinha, tem de passear de mãos dadas contigo até o mar.
Às vezes, dois se encontram no meio de tanta gente chata, feia e sem graça, como duas canoinhas que se cruzam no meio do oceano Atlântico. E tudo isso é tão grande, tão precipitado, tão absurdo, que quase não é real, quase não é amor, quase fica sem nome. "Amor" é só o alarme nos acordando de um sonho ruim, numa noite chuvosa, numa cama fria, deitado de costas pra alguém sem nome, sem indicação ao Nobel da Paz.
Gabito Nunes